segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Adolescência

A adolescência representa um período crucial do desenvolvimento humano à qual se associam ideias de vitalidade, entusiasmo e ânsia de futuro. A ocorrência desta fase está intimamente ligada aos factores de risco e factores de protecção nos quais os indivíduos se desenvolvem, identificando-se a família e a escola como espaços privilegiados para o seu crescimento saudável.
Presentemente, em quase toda a nossa sociedade, condena-se a responsabilidade daquele que atenta contra o maior bem do ser humano – a VIDA. Tal condenação, firma-se sobre a ideia plena de que a atitude do suicida corresponde a um plano devidamente arquitectado, levado a cabo com lucidez e arbítrio plenos, fruto de um completo desapego (inaceitável) com a vida. Essa atitude de ousadia (irreverente) de quem atenta contra si próprio, gera sentimentos de incómodo nas pessoas, pois elas, genuinamente confrontam-se também com o seu próprio projecto de existência. Com alguma facilidade se aceita a ideia de que “quem quer se matar que se mate” e de preferência “bem longe de mim”, no entanto, não nos deveríamos esquecer do filósofo Albert Camus, para quem "só há um problema filosófico verdadeiramente sério: o suicídio".
A problemática dos comportamentos suicidários na adolescência é real. Segundo a OMS o suicídio está entre as três maiores causa de morte entre pessoas com idade entre 15-35 anos, pelo que, é desejável, que todos os patamares da nossa sociedade chamem a si a responsabilidade em relação a esta problemática.



http://www.youtube.com/watch?v=2Ok-q8CuxH8


Tentativas de suicídio dos adolescentes aumentam
“Os comportamentos suicidários entre os adolescentes estão a aumentar em Portugal. Todos os anos, mais de dois mil jovens atentam contra a vida, mesmo quando a morte não é o objectivo. "Para eles, a vida vale pouco".

Só às urgências dos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC) chegam diariamente dois ou três novos casos. Mas há muitos outros, que nunca entram para as estatísticas: são silenciados em casa.
"Trata-se de jovens com comportamentos repetidos que a família já nem valoriza. Por isso, em vez de irem para as urgências, ficam em casa a dormir um ou dois dias", explicou à Agência Lusa Carlos Braz Saraiva, psiquiatra responsável pela Consulta de Prevenção do Suicídio nos HUC.
"Em Portugal existe um fenómeno crescente de para-suicídio adolescente, mas felizmente suicidas consumados há poucos", diz o psiquiatra, explicando que "o para-suicídio pressupõe que a intenção de suicídio é quase zero".
"Uma jovem que, perante um desgosto amoroso, toma comprimidos é um para-suicídio, o que é uma situação diferente de um rapaz que se decide enforcar e escolhe um local ermo para o fazer", explica.
As estimativas nacionais apontam para 200 casos por cada cem mil jovens, "mas se analisarmos apenas as raparigas o número sobe para 600 por cem mil habitantes", alerta o especialista.
"A vida para os adolescentes não é nada fácil. Para eles, a vida vale pouco", lembra, por seu turno, o chefe do Serviço de Psiquiatria Júlio de Matos, António Albuquerque.
A maioria chega aos hospitais com sobredosagens medicamentosas, mas também há muitos casos de auto-mutilações. "Um em cada cinco jovens que entra nas urgências por sobredosagem também são cortadores", avança o especialista de Coimbra, explicando que se trata de um "método para trocar a dor de alma pela dor do corpo".
A questão nuclear do para-suicídio é a rejeição: sentem-se marginalizados, incompreendidos e, no final, não sabem como lidar com o desespero.
O para-suicídio é um fenómeno das classes sociais mais baixas, estando normalmente associado a famílias com histórias de alcoolismo, toxicodependência ou abandono. "São normalmente filhos de famílias disfuncionais, que sentem que não têm com quem contar. Nunca tiveram confidentes, sentem-se rejeitados ou então foram abandonados pelo pai quando eram crianças", explica Braz Saraiva.
O retrato é corroborado pelo colega e chefe do Serviço de Psiquiatria Júlio de Matos, António Albuquerque. Mas também existem casos nas classes sociais mais altas: "Onde os níveis de exigência são muito elevados, porque esperam que os filhos continuem uma espécie de dinastia na carreira. Esperam que sejam brilhantes no sucesso escolar".
Numa sociedade que não concede grandes escapatórias para o fracasso, muitos jovens sentem que a realidade pode ser ameaçadora e acabam por ter comportamentos suicidas.
Se para muitos estes actos servem apenas para chamar a atenção, Braz Saraiva lembra que "é preciso valorizar o desespero de quem o faz". Apesar de poderem ser precipitados por aspectos infantis insignificantes, isso não quer dizer que não voltem a repetir os mesmos comportamentos.
Braz Saraiva diz que "cerca de 25 por cento dos jovens têm tendência a ter comportamentos recorrentes, porque têm uma estratégia desadequada para lidar com o desespero" por Sílvia Maia / Lusa 27 Julho 2009.

Actualmente, a comunidade cientifica acredita que, na grande maioria dos casos, aquele que atenta contra a sua própria vida, tem uma percepção distorcida do mundo e dos valores, pois tal como nos diz Oliveira (1999), "Perante uma realidade que não lhe é fácil de encarar, um jovem pode (...) ficar bloqueado e temporariamente passivo; pode mostrar-se agressivo e fazer notar a sua raiva incontida aos outros; pode submeter-se e pensar que é olhado e aceite; … pode alimentar as suas ilusões e construir (ou reforçar) os muros que o isolam – até de si mesmo. Atacando ou renunciando ao mundo exterior, parece sentir-se, assim, protegido. O que não passa de uma aparência, sob a qual se escondem (ou reprimem) os seus medos, inseguranças, tristezas e emoções exaltadas que, tantas vezes, lhe incendeiam, turvam e confundem a mente, ávida de referências."


Por último, um pensamento de M. Julieta Silva (2002): “Estou aqui, pensem em mim, tratem de mim, mostrem que me amam”.

1 comentário:

  1. Muito bem estou a gostar do empenho. Está muito bonito e com temáticas interessantes.Continue pensando Saúde Mental....Luísa Gonçalves

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